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quinta-feira, 28 de abril de 2016

'Cada corrupto que se dá bem é um moleque da minha quebrada assassinado', diz Criolo

POR WALDIR JUNIOR DE SALVADOR/BA
FONTE:  BBC Brasil em Londres

Para Criolo, ambiente de rancor no Brasil impulsionado pela crise política é "chuva de ódio" que fortalece racismo e homofobia
Nos labirintos da lendária casa de shows Koko, em Londres, Criolo aparenta cansaço ao chegar para a entrevista. Aquele domingo chuvoso era o quarto dia seguido de shows em uma rápida turnê pela Inglaterra.
O repórter teme uma conversa morna pela frente, mas a impressão logo se mostraria errada. Em papo com a BBC Brasil – e no palco em seguida –, o rapper e compositor expôs sua visão sobre a crise no país.
"O que acontece hoje é que algumas pessoas extremamente inteligentes têm em suas mãos um regimento e sabem mexer com esse regimento. Sabem cada espaço, cada fresta, e ali vão criando seu império. E são capazes de tudo para proteger seus interesses, até parar o país e fazer com que as pessoas se matem na rua", diz ele, em referência ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Batizado Kleber Cavalcante Gomes, filho de imigrantes nordestinos, Criolo, de 40 anos, é hoje um dos artistas da nova geração mais aclamados pela crítica no Brasil. Desde o álbum Nó na Orelha (2011), deixou o gueto do rap paulistano e multiplicou o alcance de sua música.
Nas redes sociais, houve quem apontasse hesitação do rapper para se manifestar sobre o momento político no Brasil. Também foi criticado na seara musical ao se associar a Ivete Sangalo em um projeto patrocinado por uma empresa de cosméticos. No bastidor da casa de shows, sozinho com o repórter, ele parece se dirigir a essas pessoas.
E ele se sente cobrado a opinar, no papel de artista? "Acho que não. Ninguém tem que ser cobrado de nada, tem que ser uma coisa natural de cada um. Não é porque uma pessoa não falou em palavra que não faz em ação."
No show em Londres, havia cartazes e coros de "fora Cunha" na plateia, de forte presença brasileira. Com pelo menos meia dúzia de turnês internacionais nos últimos cinco anos, Criolo diz que esse tipo de manifestação marcou esse atual giro pela Europa.
No palco em Londres: manifestações políticas na plateia e no palco marcaram turnê atual pela Inglaterra

"Chuva de ódio"

O compositor, que já foi descrito por Caetano Veloso como "possivelmente a figura mais importante na cena pop brasileira", também fala da "chuva de ódio" que vê hoje sobre o Brasil.
"É muito louco isso, porque foi criado um ambiente de ódio, de rancor, tão absurdo que as pessoas passam por cima e parece que não estão vendo uma construção de fortalecimento, que algumas pessoas sugerem, de homofobia, xenofobia, racismo, de achar normal esse abismo social que a gente vive."

Ainda há tempo

No Brasil, Kleber prepara shows de comemoração de dez anos de seu primeiro álbum, Ainda Há Tempo (2006), do período em que ainda era o "Criolo Doido" das rinhas de MCs da zona sul de São Paulo. Faixas do disco que aparecem no repertório do show parecem reforçar a mensagem do cantor sobre o momento atual.
"As pessoas não são más / Elas só estão perdidas / Ainda há tempo”, diz a faixa-título, que fecha o show. Na abertura, os versos de "É o Teste": "É o teste, é o teste, é a febre, é a glória / Não se corromper, para nós, já é vitória".
"De onde venho, essa mensagem é urgente todos os dias para quem não enxerga que tem gente vivendo nas bordas”, diz à BBC. “As leis estão sendo testadas."
Da esq. para a dir., a banda que acompanha Criolo na turnê pela Inglaterra: Guilherme Held (guitarra), Daniel Ganjaman (teclados e programação), Sérgio Machado (bateria), Marcelo Cabral (baixo).

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