Lula e PT podem fazer o país ingovernável, diz ex-representante da OEA
de Waldir Junior de Salvador Bahia
Fonte: BBC Brasil em São Paulo
A democracia global está numa crise de meia idade. Como um cara que, gordo, casado e sem horizontes na vida, decide pintar o cabelo de vermelho, comprar um conversível e ir para Cancún. Tal crise não vale só para o Brasil, onde está em curso um processo de impeachment, mas para todo o mundo, com seus Trumps e Putins.
A análise é de Kevin Zamora, ex-secretário de assuntos políticos da Organização dos Estados Americanos e membro do centro de estudos sobre governança democrática The Inter-American Dialogue, baseado em Washington.
Na opinião de Zamora, que também foi vice-presidente da Costa Rica, o que está em curso no país não é um golpe de Estado, mas consequência legal da falta de representatividade do governo e de legitimidade do sistema de partidos.
Ele também opina que, nesse processo, subestima-se a sobrevivência do PT e de Lula, que devem continuar como figuras centrais. "Quem acredita que, com isso, está eliminando definitivamente o PT e Lula e desfazendo a esquerda neste país está louco."
Segundo Zamora, se quiserem, Lula e o partido podem tornar o país "ingovernável" depois do impeachment. "Indo às ruas, bloqueando qualquer coisa no Congresso. Eles podem fazer a coisa muito difícil para o governo transitório e para qualquer coisa que venha depois."
Ele falou à BBC Brasil em São Paulo, durante evento organizado pela FGV-SP.

Zamora diz que impeachment não é golpe, mas pode ser passo "traumático"
BBC Brasil - O processo de impeachment traz ameaças à democracia brasileira?
Zamora - Não acho que haja um perigo sério para a democracia em Brasil. O que dizia (Fernando Henrique) Cardoso (no evento da FGV-SP) me pareceu correto.
Em 1992, com Collor, havia uma grande inquietude de como isso iria afetar a democracia frágil recém-saída da ditadura, e na verdade não teve consequências graves (para a democracia). Se isso era certo em 1992, é muito mais certo agora. Porque acho que as instituições estão muito mais fortalecidas no Brasil.
Cardoso disse uma coisa que achei muito reveladora. Que em um episódio tão complicado como este, as pessoas já não se preocupam com o que dizem ou pensam os militares. Agora se preocupam com o que dizem ou pensam os juízes.
Essa é uma mudança grande. Não sei se a democracia do Brasil vai sair fortalecida disso, mas certamente não pressupõe um risco imediato para o sistema democrático. O risco é mais a longo prazo, de que isso continue e acentue o processo de demolição da credibilidade dos partidos e da legitimidade dos atores políticos.

Com apoio social, Lula pode tornar a situação muito difícil para próximos governos, diz Zamora
Nenhum comentário:
Postar um comentário